domingo, 5 de maio de 2013

O Gosto Escarlate

Por não agüentar mais, pulou...

Pulou para aquele mundo fantástico sobre o qual sempre sonhou. Chegou de repente, mas com uma suavidade única. Sempre acreditou que ele podia voar, e lá ele podia. Planou como uma gaivota pelos campos verdes que pareciam infinitos e eram abençoados por agradáveis raios de um sol lindo. Avistou árvores e pousou logo além do que ele viria a descobrir ser um campo de macieiras. Não simples árvores, mas organismos portadores dos mais belos frutos que ele já havia visto, maçãs que, de tão belas, pareciam convidá-lo a pegar uma e morder. Ele não hesitou e abocanhou a mais vermelha que seus olhos encontraram, descobrindo então um sabor doce nunca provado antes, mesmo vindo junto de um gosto que não parecia ser de maçã. Olhou para o horizonte e viu um bando de cavalos selvagens galopando em direção a um riacho próximo, crinas balançando ao sabor do vento. Resolveu se aproximar do riacho, mas a poucos metros de seu destino percebeu nuvens negras vindo rapidamente em sua direção, carregadas de energia elétrica. Tentou voltar para perto das macieiras, mas estacou ao ouvir uma voz vinda de lugar nenhum: "AFASTEM-SE". Menos de um segundo depois, sentiu como se tivesse sido atingido por um dos raios. Tombou, levantou-se e começava a correr para o pomar, logo a tempo de ouvir a voz mais uma vez e ser atingido de novo.

Foi ai que, como em uma daquelas epifanias, ele entendeu tudo. Só então ele passou a sentir o gosto escarlate em sua boca e a concussão do lado direito de sua cabeça. Percebeu que, se tomasse mais uma daquelas descargas, poderia ser expulso do seu mundo da pior forma possível. Ao olhar pros lados, porém, viu seu mundo como ele realmente era - não tão perfeito assim.

Resolveu então aceitar a realidade e, no mesmo instante em que abriu os braços para encarar a tempestade, a última descarga desceu rasgando o céu e o atingiu em cheio.

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